sábado, 15 de novembro de 2008

Biblioteca - Os Tambores de São Luís 2

Bem, já faz algum tempo que concluí a leitura de "Os Tambores de São Luís" e devo dizer que minhas impressões iniciais não foram alteradas. O livro manteve sua força até o final e foi justamente nesse ponto que o autor nos entregou a última surpresa. A trama foi constituída magistralmente, convergindo para um conclusão surpreendente - ao menos para mim -, que mostra toda o engenho do escritor.

A história, alternando flashbacks com a caminhada de Damião em direção ao local de nascimento de seu trineto, se estende através de centenas de páginas cheias de detalhes e descrições de ambientes, pessoas e eventos. A saga de Damião foi exibida minuciosamente, mostrando seus momentos de glória e também suas inúmeras quedas. Josué Montello, durante todo o livro, demonstra seu apreço e sua admiração pela personagem principal e a coloca num patamar de superioridade - moral e intelectal - em relação a todas as outras.

O livro é, sem dúvida, um dos melhores que já li e despertou em mim o desejo de conhecer outras obras do autor - como "Cais da Sagração" - e também de visitar os muitos locais de São Luís mencionados no texto - a exemplo do largo de São Pantaleão, de onde vinha o som dos tambores que perpassa toda a vida de Damião na capital maranhense.

Para não ficar apenas nos elogios, guardei um pequeno senão que ficou martelando em minha mente por todo o tempo em que estive a ler "os tambores". Pareceu-me que Damião, das alturas de sua superioridade, perde um pouco de sua humanidade, adquirindo um perfil um tanto quanto messiânico. Ele teria algo a ver com "o escolhido", um sujeito ungido, marcado pela natureza, pelo destino ou por Deus para conduzir seu povo à liberdade, algo como um Moisés cor de ébano. Vale ressaltar que Hollywood gosta muito deste tipo de personagem, pois a indústria do cinema utiliza bastante o herói pré-destinado em seus filmes - basta ver o Neo, de Matrix. Tal espécie de salvador é comum também em outras culturas, como a portuguesa, onde a espera por Dom Sebastião é largamente conhecida.

A magnanimidade de Damião às vezes ultrapassa os limites do crível e me deixou impaciente em diversos momentos, parecendo-me que o personagem foi idealizado em excesso a fim de enaltecer as qualidades do seu povo oprimido. Afora esse particular, a leitura se mostrou uma grande e rica experiência literária, das melhores que já pude vivenciar.

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