terça-feira, 2 de agosto de 2011

Prefácio do livro "Sobre sonhos e voos", de Tarciano Lemos

Thank you, driver, for getting me here (Too much, Magic Bus)


Não sei bem porque, mas a voz de Pete Townshend me vem à mente neste momento. Após a leitura de “Sobre sonhos e voos”, o universo que consigo divisar me faz lembrar de nomes tão diferentes quanto Terence McKenna e Jesus Cristo. Talvez seja uma certa aura sacerdotal ou apocalíptica. Algo que somente poderia advir de uma mente simultaneamente alucinada e racional, de uma pessoa que transita do adventismo à alquimia, caminhando pelo pop, pela tecnologia e pela economia de mercado.

O sentimentalismo, no melhor sentido que o termo nos permite, perpassa quase que a totalidade dos textos. O objeto pode ser sua mãe, uma senhorita repetidamente presente, capturada porém elusiva, ou uma jovem nipo-alencarina-novaiorquina. O que me fez lembrar de uma mistura metade canadense, um quarto chinesa e o restante australiana. Mas isso é uma outra história... O universo do autor compreende, em sua riqueza, o devaneio, a busca incessante, o inatingível, o onírico, para mencionar apenas algumas nuances. Tudo amalgamado de forma hermética e artesanal.

Uma característica marcante do escritor é a busca pela palavra exata, pela frase inédita, certificada por mecanismos de busca cibernéticos. Quantas vezes não acompanhamos suas caçadas por um novo vocábulo a ser utilizado de maneira eficiente para um texto em gestação? Esse gosto barroco pela forma, pelo excesso, dá um tom singular a tudo que sai de sua mente quando transposto para o meio virtual e, agora, também para o mundo analógico.

A criação do autor gera, em nós leitores, a percepção de estarmos diante de um texto de efeito borgeano, desconcertante e impactante como Tlön, Uqbar, Orbis Tertius, ou de algo proveniente de uma mente como a de Timothy Leary, transportando-nos por passagens da lendária viagem dos componentes do Merry Pranksters em direção a Nova Iorque. Se é possível uma comparação musical, a lembrança de In-A-Gadda-Da-Vida talvez não seja de todo absurda.

Não existe receita para ler um livro, do mesmo modo que a riqueza de um texto talvez esteja ligada à vastidão de leituras que este pode proporcionar. Como sugestão, posso apenas indicar o caminho que percorri, viajando por belas paisagens linguísticas, atravessando caminhos herméticos e buscando lidar com o delirante mundo do sonhar.