domingo, 7 de setembro de 2008

Biblioteca - Os Tambores de São Luís 1


Gostaria de exprimir, a partir de agora, algumas impressões acerca dos livros que tive a oportunidade de ler. Pretendo começar pelo mais recente - e ainda não concluído -, tanto por razões metodológicas - se o ponto de partida é arbitrário, por que não iniciar pelo final da lista? - quanto pelo fato das leituras mais atuais estarem presentes de maneira mais viva na mente.

Pelo título da postagem, é óbvio que o livro em questão chama-se "Os tambores de São Luís", de Josué Montello. Há muito tempo um primo meu vem insistindo para que eu lesse a obra. Mais ou menos um ano atrás, eu a adquiri e coloquei-a na estante, esperando pelo momento em que teria vontade de lê-la. Após alguns livros passarem pelo meu criado mudo - e depois de inúmeras indagações do meu primo se eu já o tinha lido -, decidi retirá-lo do seu nicho na estante e levá-lo para um convívio o qual julgara que seria demorado, devido à espessura do tomo. Rematado engano, este. A leitura do texto mostrou-se bastante fluida, sendo a atenção despertada pelo pitoresco dos detalhes acerca da vida no Maranhão escravocrata e dos sofrimentos e aventuras de Damião, protagonista da obra. Aliás, o fato de um negro ser a principal personagem de um romance já atribui ao texto um caráter diferenciado, pois muda a perspectiva de análise. Passa-se a enxergar a sociedade através da ótica dos oprimidos, dos sofredores, daqueles que são explorados e, literalmente, escravizados por um sistema tão aviltante.

Outro fato que chama muito a atenção é a capacidade de Damião. É ele o homem superior da obra. Superior em inteligência, em moral, em altivez e coragem. Os outros negros e, principalmente, os brancos que o cercam, lhe são visivelmente inferiores, e esta é uma característica do romance que ajuda a dar-lhe um caráter ainda mais especial, inovador. Damião me faz recordar, inúmeras vezes, do Julien Sorel, de Stendhal - em "O vermelho e o negro" -, tanto pela inteligência - e memória - superior, quanto pela necessidade de ingressar nos quadros da Igreja Católica para poder escapar da miséria e da opressão. É verdade que Julien desenvolve suas atividades movido pela ambição, enquanto Damião tenta - pelo menos no início - apenas sobreviver. Mas também é válido interpretar que a percepção deste último de que ele poderia, ou melhor, deveria liderar os negros em busca da liberdade, é, do mesmo modo, uma expressão de ambição. Uma outra abordagem poderia sugerir que Damião assumisse isto como um dever pessoal, uma obrigação. Seu dom seria um presente de Deus, ou dos deuses, e ele não teria o direito de desperdiçá-lo, acomodando-se e não ajudando aqueles que sofrem as dores do cativeiro. Essa acomodação, por sinal, parece ser o principal motivo de suas angústias.

Bem, agora é que cheguei à metade do livro. Espero concluir brevemente sua leitura e voltar a este espaço para compartilhar - comigo mesmo e com alguma alma perdida - outras impressões.

Um comentário:

João Ninguém disse...

Aleluiaaaaaaa


Ass: "O primo"