quinta-feira, 13 de dezembro de 2007

Diofante de Alexandria

Este sujeito, o Diofante, apesar de ser conhecido como de Alexandria, não tem local de nascimento determinado - tampouco a data é conhecida, suspeitando-se que nasceu em torno de 250 d.C. É sabido, no entanto, que foi um grande matemático - chamado por alguns de pai da álgebra -, tendo publicado um grande tratado, em 13 volumes, denominado Aritmética.

Essa obra, arquivada na famosa biblioteca, resistiu a muitos desastres "batizados" com nomes de prestígio - Júlio César, bispo Teófilo, califa Omar... Tempos mais tarde - após escapar de romanos, cristãos e muçulmanos -, muitos escritos guardados em Alexandria foram reunidos em Constantinopla e lá ficaram mantidos até a invasão da cidade pelos turcos, em 1453. Os estudiosos bizantinos salvaram apressadamente os textos que puderam carregar e os levaram para a Europa, onde tais escritos, felizmente, ajudaram a elevar o conhecimento ocidental.

Dos treze volumes da Aritmética, apenas seis foram salvos, tendo uma cópia chegado à casa do matemático francês Pierre de Fermat. Tratava-se da tradução para o latim realizada por Claude Gaspar Bachet de Méziriac, auto-intitulado homem mais culto, e humilde, da Europa. Conta-se que, analisando a equação de Pitágoras - aquela sobre os quadrados dos catetos e da hipotenusa, a qual toda criança estuda - Fermat teve a iluminação de formular seu famoso teorema, que passaria mais de trezentos anos para ser demonstrado.

Mas não é sobre este teorema que desejo falar - pelo menos não agora. A razão deste texto é o tal do Diofante, que tem até uma espécie de problemas matemáticos batizada com o seu nome. Em seu livro, o antigo sábio desenvolveu mais de cem desses problemas, todos com soluções didaticamente detalhadas. Diofante ficou, assim, conhecido por seus enigmas - tanto que alguns chegaram a dizer que, em sua homenagem, uma questão foi gravada na lápide de seu túmulo:

Deus lhe concedeu a graça de ser um menino
pela sexta parte de sua vida. Depois, por um
doze avos, ele cobriu seu rosto com a barba.
A luz do casamento iluminou-o após a sétima
parte e cinco anos depois do casamento Ele
concedeu-lhe um filho. Ah! criança tardia e
má, depois de viver metade da vida de seu pai
o destino frio a levou. Após consolar sua
mágoa em sua ciência dos números, por
quatro anos, Diofante terminou sua vida.

O que me chama a atenção, além da curiosidade de ler tal tipo de texto numa lápide, é a qualidade do mesmo. A expressão "Ah! criança tardia e má" é muito forte e dá um sentido de grandiosidade, e de desalento, à passagem. Outros momentos, como "luz do casamento" e "destino frio", também são ótimos. Formulado de modo tão eloqüente, um enunciado matemático como este se torna belo, mostrando que é possível dar valor literário a qualquer tipo de texto. Por sinal, venho sempre perguntando aos meus botões: seria alguém realmente capaz de definir literatura? Quem teria tal autoridade? Mais ainda: haveria necessidade dessa definição?

E a propósito - ia me esquecendo! -, com que idade morreu Diofante?


P.S.: As informações acima foram retiradas do livro O último teorema de Fermat, de Simon Singh, publicado pela editora Record.